Abri meu baú de lembranças

Nos meus quase setenta anos de repente me vejo voltar no tempo.

Saudades me fazem pensar.

Ainda me lembro dos meus avós. Tanto por parte de pai como de minha querida mãe.

Meu pai assinava Abreu. Minha saudosa mãe me emprestou o sobre por quem sou mais conhecido. Rodarte, herdado do meu querido Rodartino Rodarte. De quem herdei o prazer de fazer das pernas o meu transporte preferido.

Como me lembro com saudades imensas do meu avô Rodartino. Com seu terninho azul marinho. Usando chinelos de couro marrom. Com os quais andava pela cidade. Com um prendedor das calças da mesma cor do paletó. Um suspensório atado à calça. Se não me engano ao cinto da mesma cor.

Já a minha avó Belica, nascida em Perdões, gostava de cultivar rosas em seu jardim suspenso. Onde hoje é o edifício de mesmo nome dado ao meu avô. Edificado por meu pai. Por onde sempre passo ao cair das tardes. Em visita rápida a querida irmã Rosinha.

Já os Abreus têm raízes fincadas na linda Ribeirão Vermelho. Cidade vizinha a nossa. Aonde por vezes ia correndo lento. Hoje não me atrevo a tal façanha. Prefiro a academia por onde passo agradáveis horas ao final das tardes.

Meu avô paterno era ferroviário. Seu nome era Alberto. Minha avó, de saudosas lembranças, levava o nome de vó Maria.

Meu pai tinha alguns irmãos. Todos já viraram anjos. Uma única irmã, a mais nova, era a saudosa tia Liquinha. Que sempre viveu em Varginha. Deixando uma linda ninhada de primas e um único varão. Bendito é o fruto entre as mulheres.

Já os Rodartes ainda vivem por aqui. Restam dois tios. O Rubio, irmão mais novo, e a tia Cida. Pessoa maravilhosa. Que vive a distribuir sorrisos.

Não quero ir mais longe em minhas lembranças. Dizem que o passado deve ficar enterrado. Pena que não consigo.

Ao abrir o meu baú de recordações sem querer as saudades avançam. Sei que devo viver o presente. Mas como me desvencilhar do passado se sou pleno de sentimentos?

Estou prestes a completar meus setenta anos. De hoje a alguns meses. Por quanto tempo mais viverei? Quanto tempo mais irei resistir?

Hoje sou pleno de saúde. Amanhã, não imagino o que me vai reservar.

Enquanto estiver por aqui, vivendo sem saber o porvir, estarei sempre cultuando o passado.

Pois, sem o mesmo passado não existiria o presente. Nem mesmo o futuro.

Meu baú de lembranças sempre vai estar comigo. Hoje.  Sempre. Enquanto estiver vivo.

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