Por que não falar de flores?

Tanta notícia ruim. Tantos acontecimentos fatídicos. Tanta miséria alardeada. Tantos meninos ao desabrigo. Tamanha a violência observada. Tanto choro, quantas lágrimas derramadas.

Mas, depois da chuva de ontem a noite, do sol que desperta nesta manhã, de um dezembro em seu começo, exatamente neste dia, sete, passo a contar com mais uma velinha no meu bolo de aniversário.

São tantas que perdi a conta. Quase setenta. Elas enchem a cara do bolo que mal cabem na cobertura. Melhor identificá-las por números. Caso fossem velas, sessenta e nove, enfileiradas uma a uma, seria quase impossível para um bolo comum absorvê-las todas na sua superfície.

Já fiz questão de presentes de aniversário. De Natal, então, como era bom descobri-los debaixo daquele pinheirinho verde, colhido num lote qualquer. Eu menino ia, um a um, desembrulhando as caixas enfeitadas de fitas amarelas. Com enorme curiosidade infantil ia descobrindo qual era o caminhãozinho de bombeiro, qual seria a patinete de rodinhas de rolimã, qual a peteca que me foi presenteada por um tio distante. E quão distante me parecem aqueles verdes anos. Tão longe que me fez perder no tempo qual a idade exata que hoje coleciono.

Embora aos quase setenta anos não me sinto velho. Ajo como menino. Sonho como criança. Brinco com meus queridos netos como se fosse um deles.

O nosso país está prestes a mudar de comando. Ano vindouro estaremos com novo comandante. Oxalá a nossa escolha tenha sido acertada. É o que desejo como pressente neste final de ano.

Depois de tantas notícias ruins, de tanta miséria noticiada pela mídia, de tantos casos de violência familiar, ao acordar cedo, depois de escutar o alarido da chuva tamborilando no vidro da minha janela, passei pela praça principal da minha Lavras querida, temendo pela saúde do verde daquele lugar encantado.

Poucos passantes iam e vinham pelo âmago do praça. Era quase apenas eu, e meus passos frenéticos, caminhando pelo calçadão do jardim.

Tentei conversar com as árvores. Elas não responderam ao meu apelo. Apenas olhavam curiosas aquele intruso que passeava debaixo delas. O gramado vestia um verde redivivo. Não pude conversar com as flores que porventura estivessem sorrindo.

Parei por um instante assentado a um banco do jardim. Olhei pro alto. Agradeci a uma entidade que não se deixa ver todas as graças alcançadas.

A saúde que até hoje desfruto. A felicidade da família que me ampara. Os amigos que inda agora conquistei. Aos meus pais que olham por nós na distância do infinito.

Fiquei por alguns instantes na intimidada da nossa praça. Foi ali, no rela do jardim, que conheci a primeira namorada. Foi com ela que me casei. Foi nela que me escorei. Foi com ela que tive dois filhos, que me deram dois netos, logo serão três.

Não tem sido fácil a vida dos brasileiros nestes dias que antecedem o final de ano.

Dois mil e dezoito foi um ano duro. Poder-se-ia dizer cruel para muitos desempregados. Que vivem a margem da sociedade. Como párias sociais.

Experimentamos toda a sorte de vicissitudes. Corrupção, desemprego, desvios de dinheiro que não chegam ao seu destino. Prefeituras que não conseguem saldar seus compromissos. Um Estado semifalido. Oriundo de um país mal governado.

Mas, com o otimismo de que sou dotado, espero, de peito aberto, que no próximo ano a situação mude para bem melhor.

Tomara o cidadão brasileiro encontre em seu país as condições necessárias para que seja em verdade feliz. Que tenha emprego condigno. Que o fosso social não se aprofunde tanto. Que os pais de família possam desfrutar de um salário digno. Que as crianças cresçam num cenário menos adverso. Que a saúde seja estendida a todos sem distinção de classe social. E, principalmente que a educação seja de qualidade. Qual seja no ensino público assim como no privado.

Hoje cedo passei pelo jardim. Tentei conversar com as flores mas delas não tive resposta. Assentado a um banco orei pelo nosso destino. Aquele logradouro me deu a paz que tanto almejava.

Agora, quase sete e meia da manhã, parece que mais tarde vai chover de novo, antes de consultar a mídia para me informar sobre as notícias ruins, pensei em falar de flores.

Confesso que se trata de um assunto mais saboroso. Daí, nesta data pra mim especial, a vocês, meus amigos e leitores, deixo aqui meus melhores votos de boas festas, e que muitas flores enfeitem seus caminhos, na estrada da vida que ainda irão percorrer, nas suas trajetórias por este planeta maravilhoso.

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