Quantos setembros virão?

Mais um mês apagado do calendário. Menos um dia para findar setembro.

Pensando na minha existência, nos dias em que passei, alegre, pensativo ou triste, assim que acordei voltei minhas lembranças ao tempo em que fui criança, quase uma data esquecida, subtraída aos anos que não voltam mais.

Hoje estou sessenta e oito. Dezembro perto mais um ano me acena.

Primavera desperta, penso: quantas delas mais me restam? E por quantos verões passarei.

Melhor não pensar no amanhã. Hoje é dia viver intensamente tudo que a vida nos reserva. Por que nos preocuparmos com o futuro se o presente tem sido tão conveniente?

Felizmente tenho saúde a dar a outrem. Não me lembro de quando precisei ir ao médico. Confesso-me um tanto quanto desleixado com a minha saúde. Como médico deveria dar o exemplo. No entanto, quando um paciente me procura, neste final de mês faltam consultantes, ao invés de preencher formulários inerentes a pedidos de exames, simplesmente, depois de um exame acurado, não encontrando nada que motive os tais exames, depois de uma conversa ao pé do ouvido despeço-me do paciente explicando não ser preciso que ele gaste tempo em algum laboratório. E que viva a vida simploriamente. Não imaginando enfermidades que um dia podem tomar conta de seu corpo ainda resistente.

Nos dias de hoje aprendi, penso ser melhor pra mim, não usar carros como rotina. Minhas pernas andarilhas compartilham com meus gostos.

Creio ter caminhado, vida afora, sem aforismos demagógicos, mais da metade da distância que ainda me resta a percorrer.

Talvez a saúde de aço que me sobra, em parte seja devida ao pensar tanto, no escrever continuamente, no amar constantemente, no pouco exigir das pessoas, as quais quero tão bem.

Certo que preocupações existem. Mas delas me desvencilho, sempre que posso. E quando não posso também.

Hoje, sexta-feira de céu encoberto, ao descer a rua como sempre faço, ao passar pelas mesmas pessoas, todas madrugadoras, vi algumas mensagens apensas aos postes, todas elas com uma bola branca, pedindo paz. Dizendo não a violência, exigindo mudanças.

Nunca seria demais recordar que de hoje a alguns dias teremos eleições. Oxalá o candidato vitorioso nos faça capazes de conquistar a tão sonhada felicidade. E o país onde vivemos sofra transformações importantes. Não preciso listar todas elas. Elas saltam aos olhos de quem vive cá.

Setembro logo termina. Outubro o sucede. Novembro quase culmina o ano. Logo entraremos dezembro.

Prestes a encerrarmos o ano, logo o chamaremos de velho, como penso ainda não estar, ao brincar durante a tarde de ontem com meu querido Theo, de repente me vi criança. Doce infância. Reluzentes lembranças.

Ao lado dele não tenho tempo para pensar na idade. A meninice do meu querido netinho me permite voltar à mocidade. Ao seu lado fico de cócoras. Rolo no tapete. Disputo seus brinquedos como se eles fossem meus.

Ao lado do Theo não penso em quantos setembros virão. Nem ao menos em ficar velho.

Pois através dele me renovo. Retrocedo nos anos. Torno-me outra vez leviano.

Daí a impropriedade de pensar na passagem do tempo. Bem sei que ele passa. Mas certo estou que vou ultrapassar a voracidade do tempo. Posso um dia faltar. No entanto, com certeza, esta certeza vai passar.

 

 

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