Garotinho esperto aquele. Que apenas com cinco aninhos. Bem novinho ainda. Já ajudava ao pai na lida na roça.
Juquinha era estudioso. Esforçado e bom de prosa. Quem ao lado dele assentasse na sala de aula tinha de prestar atenção no que era ensinado. Se não a professora ralhava com ele. Já que o menino Juquinha não parava um minuto sequer. E contava piadas quase todas inventadas por ele. Chistes esses que faziam rir a sala inteira. Diziam que Juquinha, no mais tardar dos anos, seria humorista. Mas o menino ladino tinha outras pretensões. De crescer mais um cadinho. Estudar e entrar na universidade. E ser alguém na vida e quem sabe. Já que sonhar não paga pedágio. E nem engrossa a conta bancária. Elezinho seria um fazendeiro próspero. Dono de um latifúndio produtivo. Bem maior que o seu. Onde as vacas, quando deitam, deixam o rabo de fora da cerca de divisa.
Na escola tinha fama de namorador. De fato fato incontestável.
Ora lançava olhos gulosos em direção a Ritinha. Que se ruborizava todinha. De outra feita passava a mãozinha esperta na perna lisinha da Margarida. Que não se ofendia com nadica de nada. Apenas a ele dizia, meio sem gracinha: “olha Juquinha. Espera a aula terminar. Então sim, podemos ficar juntinhos. Desde que me leve à matinê. Na noite de hoje está passando um filme; dizem ser muito bom. Cheio de sacanagem como você gosta de ver”.
Mas Juquinha se fazia de rogado. Pois só tinha olhos para a Bete. Uma garota de vozinha meio fanha. Mas tinha lábios sedutores tintos sempre num batom vermelho. Que deixavam marcas de sua pouca vergonha estampada na cara de quem se atrevesse a osculá-la.
Na roça o garoto Juca não dava sossego tanto às vacas e suas crias. Na hora da ordenha era um Deus nos acuda. Juquinha, assentado àquele banquinho tosco. Quando se desequilibrava tentava se agarrar no rabo da vaca. E caia derramando o balde de leite. E ainda por cima mamava nas tetas das vacas nada deixando ao bezerro que passava fome.
Dizem, nos arrabaldes, que Juquinha teve sua iniciação sexual com uma galinha. Que por ser arisca deixou nele marcas de sedução. Um dia, era uma manhã chuvosa, bem cedinho ainda. Quando Juquinha foi ao galinheiro, na intenção pecaminosa de ter um caso com a galinha carijó. Ela nada quis com ele, pois amava de verdade o galo esporudo. Que meteu a espora na bunda do Juquinha. Que nunca mais se meteu com ela.
Outra namoradinha do Juquinha foi uma novilha listrada. Que um dia foi ser vaca. Que, quando envelheceu virou carne de boi. Sendo vendida para um açougue das vizinhanças. E como Juquinha sentiu falta delazinha.
De outra feita Juquinha caiu de amores por uma mulinha castanha. Com quem tentava namorar em riba de um cupim morto. Pena que quando faziam amor veio uma correção de formigas cabeçudas subindo por suas pernas indo até onde não podiam. Desfazendo assim aquele amor que não durou até a próxima estação.
Outras namoridas passaram pela vida errante de Juquinha. Nenhuma ficou com ele para sempre. Pois para sempre parece tempo demais.
Quiseram os anos que Juquinha. Quando não mais jovem se tornou. Deveras se enamorou de uma garota muito prendada.
Ela tinha todos os predicados para se tornar boa esposa.
Sabia cozinhar qualquer tipo de prato.
No tanquinho de lavar roupa era uma furor. Lavava, passava a ferro quente. Na cozinha não fazia feio.
“Ela é tudo com quem sempre sonhei”. Dizia Juquinha apaixonado.
Esqueceu-se da galinha carijó. Da mulinha castanha não mais se lembrava. Nem mesmo das meninas da escolinha guardava boas recordações.
Mas na lua de mel tudo terminou em fel. O que era doce azedou.
A linda mulher, com quem se casou. Cujo nome seria Manuela. Em verdade descobriu, na cama onde se deitaram, pela vez primeira. Que foi a derradeira. Ela era ele.
Manezão se mostrou naquela noite de núpcias. Com aquele vozeirão maiúsculo. Uma vez desvestido do seu beibedol de seda não pura.
Foi a última vez que Juquinha não teve como esconder-se de sua namoradinha. E com elezinho vive até hoje. Sem medo de ter sido enganado.
E vocês? O que vão dar de presente a sua namorada?
A minha Rosa não vou dar flores. Não há flores que rivalizem com sua beleza e doçura.