Atividade física em absoluto não me cansa.
Acordar cedo da mesma maneira não me fadiga.
Escrever sempre simplesmente não me causa exaustão.
Já corri cinquenta quilômetros. De Ijaci a uma cidade vizinha, chamada Ibituruna, fiz o percurso, num trote cadenciado, numa distância como aquela, em cerca de sete horas. Fui o último a chegar. Mas revigorado pela sensação de alivio. Já que ter cumprido o acertado com meus colegas corredores. O mais longevo de todos eles era eu. Pra mim foi uma vitória. Das tantas que em minha vida já conquistei. Nestes meus setenta e quatro anos os quais pretendo alongar até quando me permitirem.
Não me canso de acordar cedinho. Quando o sol nasce e a lua se despede.
Nem bem a noite boceja de sono e aqui estou a retratar o cotidiano.
Tento tirar cores dele mesmo que seja um dia cinzento. Caso o sol já esteja desperto tinto e retrato esse quadro em amarelo vivo. Se por ventura o dia nasça em cores desbotadas procuro avivar essas cores.
Canso-me sim. De não ter o que fazer. Já fiz de tudo um cadinho. Já montei cavalos a pelo e eles não me derrubaram. Já tive ganas de me aposentar por completo. Agora inda bem que esse desejo se foi. Não sei o que seria de mim caso me condenassem a ficar assentado a um banco de jardim. Já sou jubilado na profissão que elegi. Cinquenta anos se foram desde aquele distante um mil novecentos e setenta e quatro. Num ginásio lotado da capital do nosso estado jovens esculápios juraram exercer a medicina com denodo e ética. Mas ainda pretendo trabalhar até quando confiarem em mim.
Canso-me sim de ver tanta injustiça campeando a solta. De ver sem tetos dormindo ao relento. De ter uma casa pra morar enquanto tantos dormem ao desabrigo sob o açoite dos ventos e o frio enregelante das madrugadas.
Fatiga-me por ver o sol nascer não pra todos como deveria. E tanta coisa que deveria ser mudada e não consigo.
Canso-me por não ter o poder de melhorar a saúde do mundo. Já que ele está doente por culpa exatamente nossa.
Cansei de não ter paciência de esperar dias melhores. Se cada vez mais eles se distanciam e minha vista se mostra cada vez mais cansada.
Canso-me de tentar espalhar cultura em mentes que não enxergam senão o próprio nariz. E não desejam se educar e ficam a espera das benesses de um governo que promete dar o pão e não ensina como fazê-lo.
Causa-me despudor ao constatar que nem sempre o melhor consegue o emprego pretendido. E simplesmente é preterido em desfavor daqueloutro de menores dotes artísticos e de confiança não comprovada.
Cansei ao ver muita coisa errada. Que bem poderia ser consertada, mas falta vontade de quem lidera a massa.
Cansei de não conseguir motivar a leitura com minhas crônicas diárias. Pra uns elas tem serventia. Pra maioria se trata de apenas palavras soltas sendo levadas pela ventania.
Confesso-me cansado. Não pela correria a mim imposta pela vida. E sim pelo ritmo lento que tento dar as minhas passadas quando deveria correr.
Estou deveras cansado. Meu fôlego se reduz a uma respiração ofegante. Mesmo assim escrevo. Corro de mim mesmo. Pena que por vezes não me encontro.
Quando me cansar por completo paro e respiro. Permito-me um minuto de descanso. Respiro novamente e continuo minha corrida. Pra onde?
No fim dela o cansaço me domina. Mas não tenho a intenção de parar de novo.
Persigo meus objetivos até o final dos meu dias.
Tudo isso não me cansa. Cansa-me sim não poder mudar o mundo. Se nem a mim mesmo consigo.