Santo de casa só faz bobagem

Sábio dito? Que deveria ser exatamente esse: “santo de casa não tem valor.”

E qual seria o valor que se daria as pessoas?

Ele se mede em cifras? Em dólares ou reais? O valor que se dá as pessoas deveras talvez seja devido às qualidades que nelas se aninham. Pessoas boas têm seu valor exaltado apenas quando morrem. Já que quando vivas não são valorizados seus feitos. E quando partem a eternidade ai sim. Dizem, os presentes ao seu velório: “como ela era boa. Distribuía gentilezas quando passava. Amava a todos indistamente. Era um amor de pessoa. E esse amor que presenteava não fazia distinção entre ricos ou pobres. Ela tratava a todos com a mesma devoção.”

Santo de casa não faz milagres. Tem-se de olhar pra dentro não pro lado de fora.

Valorizam-se filhos de outrem. Os próprios são deixados de lado.

Diz-se. Sem nos olharmos pra dentro dos olhos ou encararmos frente a frente a verdade: “olha que lindo é o filho do cicrano. Ele tem olhos azuis. Cabelos não em desalinho como nosso filho. Ele sempre tira boas notas na escola. Tem comportamento exemplar. Já o nosso rebento tem a quem puxar. Ele é sua cara pai desleixado. Em má hora ele veio ao mundo. Nem parece que é filho meu.”

Tem-se o costume de não se olhar na intimidade do próprio umbigo. Contemple-o e veja direito se ele não está sujo. E não deixe a sujeira empanar a sua falta de visão.

Assim aconteceu a um amigo meu. Seu nome é José. Mas bem poderia ser Manoel.

Deles dois só nasceu um filhotinho.  Um menininho feinho como um tatuzinho bola que sempre escondia a carinha por ser mais feio que urubu antes da troca de penas.

E o tal menininho não espichava nem um palminho. Cresceu menos que seu primo. Outro menino tido exemplo de graciosidade e perfeição.

O nome dessa criança era Tiãozinho. O tal desgracioso que não tinha outras qualidades a não ser mostrar sua feiúra a todos que por ele passavam.

Tiãozinho, aos pais, não tinha maiores virtudes. Era um patinho feio despejado num ninho de urubus pelados. Mas o molequinho tinha outras qualidades que não se mostravam a olho nu sem lentes de aumento. Era inteligente. Disciplinado e atento aos matizes que se coloriam a natureza.

Seu primo só tinha a beleza a mostrar aos olhos dos outros. No mais era oco.

Os pais do moleque chamado Tiãozinho só tinham olhos de escárnio ao próprio filho. Já o dos outros eram os maiorais. Não tinham defeitos só qualidades.

O tempo rugia como um leão faminto. Anos se sucediam.

Tiãozinho pouco a pouco mostrava suas qualidades que somente os pais não viam.

Ele se tornou um homem sábio. Galgou paulatinamente os degraus da fama. Era considerado mestre em matemática. Professor emérito de prestigiosa universidade.

Conquanto seu primo belo continuava a mostrar sua beleza na obscuridade. Não tinha bom conceito na cidade onde vivia.

Os pais de Tiãozinho não davam o braço a torcer. Continuavam a olhar sempre em direção ao sentido inverso do adverso.

E diziam aos seus parentes. Sem olhar para o dentro do próprio cerne: “ah! O filho da comadre sim. Ele é que tem valor. O nosso continua o mesmo. Sempre indiferente. Admirando o murmúrio do silêncio. Desatento e descrente. Nem parece filho nosso.”

Os anos se foram e deixaram rastro.

Tiãozinho foi o descobrir do átomo. Um professor laureado com louvor em toda comunidade cientifica. Conquanto seu primo lindo foi esquecido mesmo com tanta beleza. E agora engrossa a fila dos sem tetos. Dormindo nas ruas mendigando migalhas.

Quando me perguntam se santo de casa só faz bobagem cito o exemplo acima. Nem sempre o que reluz é doirado.

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