Sou candidato

Há tempos tenho alimentado essa idéia.

Pra muitos pode parecer esdrúxula ou de falta de bom senso.

Mas sempre fui um faminto. Como mais que deveria. Alimento-me sempre de idéias boas. Ingiro comidas que podem fazer mal a outras pessoas, mas a mim tanto faz como se desfez.

Assento-me a mesa antes que o meio dia aponte exatas doze horas. Minha querida secretária do lar já sabe, de antemão, do meu apetite. Como não sei cozinhar espero impacientemente a hora de a comida ser servida. Amo pratos sejam eles quais forem.  Amo degustar uma bela macarronada. Ao alho e óleo amo saborear.

Mas esse prato, pra muitos indigesto, qual seja a política, nunca havia provado ou saboreado.

Mas penso ser chegada a hora de me aventurar à caça de votos. Lançar meu nomezinho a esse pleito que se avizinha. Bem próximo, quando outubro vier.

Na idade que conto agora. Desprovido de vaidades ou ambições maiores. Eis que penso ter chegada a hora de me sujeitar a outras vocações até então desconhecidas. Já que ainda sou médico praticante. Urologista que ainda sabe usar o dedo com maestria de um maestro regendo orquestra diante de uma platéia escondida. Ou ainda um pretenso escritor autor de vinte e um compêndios literários. Ainda pouco lidos. Ou então um idoso que ainda pensa ser menino. Um menininho serelepe que prendia rolinhas desavisadas num alçapão de mentirinha. Que somente existia na minha mente imaginosa. E ainda penso ser de tudo um pouco. Menos um político pretendente a um cargo qualquer nessa minha comunidade que amo tanto. Conhecida e reconhecida nesse mundão lindo e tão agredido por quem nele mora como Cidade dos Ipês e das Escolas. Não sei se ainda faz jus a esse epíteto. Já que as letras e palavras ainda são injustiçadas nessa comarca cujas casas livreiras quase não existem mais.

Só me falta para disputar as próximas eleições escolher em qual partido me situar. O tempo ruge de raivoso e desgostoso com minha indefinição. Não sei se opto pelo ópio ou um tal PT. Tenho medo do atual presidente não me apoiar, pois ele bem sabe que não votei nele.

Se por ventura de uma desventura me filiar ao PSDB podem dizer que meus pais são outros. E não sou um filho ingrato, pois sou muito grato aqueles que me deram a vida.

Se por acaso realmente me candidatar quem sabe o melhor ser partidário de uma sigla que não existe? Vou criar essa: partido das mãos na frente e a outra inexistente (PDMNFEAI). Nome meio complicado. Certo?

Não estou bem certo da minha candidatura. Qual seria o tema de minha campanha?

Vou pugnar pela dignidade dos letrados. Sem deixar os analfabetos de lado.

Vou lutar e me digladiar pela volta das aulas em tempo integral. Alunos em casa só dão trabalho aos pais.

Irei, se eleito for, prometo, de pés juntos, antes que eu morra, se isso um dia tiver de acontecer, numa mesa de bar, pagar aquelas dezenas de cervejas que um dia prometi aqueles que me apoiaram num palanque imaginário. Quando discursava sem saber o que dizia. Palavras recheadas de vãs filosofias.

Irei, caso minha candidatura seja vitoriosa. Batalhar pelos bons costumes. Que os professores sejam respeitados. Recebam o devido salário. Não esse de fome que mal dá para suprirem as mínimas necessidades.

Não lhes pedirei, prometo. Que se caso votarem em minha pessoa. Cujo nome de campanha ainda não sei qual seria. Se Paulinho da dona Rosa ou da dona Rute. Minha saudosa mãezinha. Ou se ainda Paulo não sei das tantas pessoas que me intitulo. Pois ignoro qual mais se adéqua a mim.

Não votem em mim se não acreditam nos meus propósitos.  Creiam sim que se elegido for irei fazer ressurgir das cinzas aqueles espíritos de porco que descrerem da cultura. Distribuirei livros em cada esquina. Incutirei crenças em quem não as tiver e descrenças em quem nelas não acreditar.

Se bem votado for prometo doar meu salário as instituições meritórias que votaram em minha pessoa. Juro e desconjuro prometo que irei honrar o prometido já que não sou metido.

Avizinha-se o próximo pleito sem desrespeito. Em respeito aos eleitores lanço a minha candidatura.

Não será à vereança. Muito menos ao palácio da perimetral pois já está devidamente ocupada por quem lá está.

Nem ao menos a um banco da praça pois não tenho o costume de me assentar naquele lugar.

Minha candidatura vai ser a continuar na tentativa. Por vezes malograda. De tentar incutir letras e palavras soltas na cabeça de vocês. Meus leitores. Que se forem um dia eleitores votem com consciência. Não se deixem iludir com falsas promessas.

Retiro minha candidatura. Antes que o mal cresça.

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