A duodécima mulher do Zé Broa

Sorte no amor não era propriamente o destino do meu amigo intitulado acima.

Zé, depois de algumas desventuras amorosas se decidiu, segundo suas próprias palavras dizer: “mulher! Nunca mais. Vou viver por minha conta e risco. Sei cozinhar. Lavar roupa não me mete medo. Dormir com meus travesseiros não me causa dissabores. Durmo até mais tarde sem me preocupar com a danada da mulher que dorme ao meu lado. E quando preciso dou uma saidinha pelas ruas da avenida. Lá talvez encontre a mulher da minha vida. As outras que se danem. Já tive algumas esposas. E todas elas não satisfizeram aos meus anseios. Vou viver só. Antes assim que mal acompanhado”.

Zé era um farturento desde quando descobriu sua verdadeira vocação.

Até aquela idade já havia feito quase tudo.

Já passou pela lida bancária. Mexer com o dinheiro dos outros era uma chateação. Já que o próprio mal dava para seu sustento.

Havia tentado ser dono de um bar. Mas de tanto pedirem para deixar a conta no pendura ele acabou fechando as portas e foi à bancarrota.

Tentou novamente abrir um estabelecimento. Uma lojinha simplesinha onde se vendia quase tudo. Essa loja da mesma forma durou menos que a florada dos ipês.

As tentativas de se dar bem na vida foram todas um retumbante fracasso. Até que finalmente se deu bem quando resolveu abrir um açougue.

Mal sabia distinguir se aquela carne seria de boi ou de sua amada vaca. Com o tempo foi ficando experto. Ia ao pasto para escolher os bois a serem abatidos. Comprava ainda as bandas dependuradas no galho mais alto da amoreira. Antes que o sangue escorresse levava as carnes ao seu estabelecimento. Aprendeu com o passar dos anos a distinguir entre uma picanha e carnes de segunda. Entre filés e chãs de dentro não se equivocava.

Aprendeu a não vender fiado. Nem que a vaca tussa resfriada.

Zé da Broa com o tempo acabou enricando. Era um trabalhor contumaz e consumido pelo trabalho.

No entanto dos entretantos gostaria de se consorciar a outra mulher. Pensava que, depois de tantas experiências malogradas, não iria errar de novo. Acertaria com certeza.

Carnes não lhe faltariam. Era um farturento desde o nascimento.

Ainda bebê sugava as tetas da mãe sem deixar uma gotinha de leite para um irmãozinho que não tinha.

Cresceu em meio à fartura recheada de gostosuras que a vida lhe ensinou a desfrutar.

À próxima esposa não lhe faltaria nadica de nada. Zé não era sovina. Ao revés. Um gastador de mão aberta que nunca fechava a não ser quando faltasse carne no seu açougue. Pagava aos vendedores em dinheiro vivo por aquela carne morta de reses abatidas.

Os requisitos para que a nova mulher fosse a escolhida seriam esses listados a seguir: ela deveria ser bem provida de carnes. Principalmente no traseiro. Se sobrasse alguma picanha gordurenta na parte de cima seria adonde elezinho mamava nas tetas de sua mãezinha. Ela deveria não regatear quando lhe desse vontade de se aninhar no seu colo macio. Sua nova esposa nunca deveria dizer não quando ele, sedento de sexo, se aproximasse peladinho em pelo, com sua pipa empinada. Antes que ela aterrissasse de novo depois de um sono mal dormido. Sua nova mulher deveria ter fartura de seios. Eles dois deveriam ser de bom tamanho com uma textura macia como seus travesseiros. Ela não poderia jamais ser como suas outras mulheres. Seria a duodécima tentativa, agora ou jamais. Ela teria de ser boa de cama e cozinha que nada a faltaria. Seria a derradeira tentativa de ser feliz a dois.

Zé tinha verdadeira adoração  aos cavalos. Amava-os como a si mesmo.

Desde menino adorava montar. A pelo mesmo nunca foi jogado ao chão.

Pelos eqüinos perdia o bom senso. Já teve mais de uma dezena se bem se lembrava.

O último deles se chamava Bastião. Morreu de picadura de cobra. Nada se pode fazer para que elezinho não sucumbisse a picada da cascavel peçonhenta.

Sabia de cor e salteado que cavalos só trazem coisas boas a vida das pessoas.

Cavalos ajudam a manter sua forma. Ele vai economizar no dinheiro da terapia. Seu cavalo vai lhe ensinar o que é dedicação. Vai lhe reduzir o estresse. Baixa o nível de ansiedade. Incentiva a projeção de sentimentos. Estimula a prática de exercícios.  Eles são recompensadores e é uma grande atividade social. E te ajudam a ter mais autoconfiança.

Zé da Broa, desiludido com as mulheres. Depois da duodécima tentativa fracassada. Descobriu mais uma galhada na sua cabeça calva. Foi num sábado de noite que o encontrei.

Ele estava cabisbaixo e ensimesmado. Perdido sem saber qual rumo tomar.

Foi ele mesmo quem me afirmou. Sorrindo sem querer.

“Sabe meu amigo. Mulher nunca mais. Se porventura de uma desventura decidir me casar de novo vai ser com uma égua. Ai sim, vou ser feliz de novo”.

Tá certo. Digo eu.

 

 

 

Deixe uma resposta