A quem dar o devido valor?

Pesos e medidas.

Palavrinhas que sempre me apoquentaram.

Desde cedo me preocupava com o sentido delas.

Não tinha o costume de me pesar na balança. Pois o peso ainda não me fazia pensar em dietas ou coisas e loisas desse tipo.

Mas com o porvir dos anos aí sim. Até nos dias de hoje, de vez em sempre, subo numa balança no meu quarto onde tento passar as noites numa escuridão completa. Mas sempre de olho na janela para ver o clarume do dia que amanhece.

Como já disse dantes não tenho pelas noites em alta estima. Tenho medo dela. Um receio, não sei se bem calçado em pedras duras ou num barro mole depois de uma chuvadonha camarada tão precisada nestes tempos secos de estiagem.

As madrugadas me inspiram. As notes escuras, ao revés. Fazem-me pensar no outro lado da vida se é que ele existe.

Já o outro sentido de valor. Qual seja apreço ou estima que se sente por alguém. Ou ainda estimar ou ponderar. Trata-se do contexto sobre o qual desejo emitir minha opinião.

Valores são critérios por vezes equivocados que se fazem de pessoas conhecidas na sociedade.

Dá-se valor a quem não o tem. Valorizam-me indivíduos sem o devido valor que desfrutam. Em contraste aqueloutros que, por serem modestos e obscuros, não brilham como vagalumes em noites escuras na roça.   Naquele pisca pisca frenético a que estávamos acostumados quando ainda meninos. Quando aprisionávamos aqueles insetinhos em muito semelhantes a besourinhos. Fazendo-os de lanterninhas vivas a clarearem as estradas perdidas na escuridão.

Temos o costume de endeusarmos pessoas que nada têm a acrescentar ao que já conhecemos.

Nos tempos de agora se endeusam os tais influenciadores digitais que nada mais são que influências negativas as novas gerações.

Idolatram-se ícones falsos em detrimento aos verdadeiros heróis. Fala-se bem de pessoas que mal conhecemos. Quando deveríamos conhecer melhor antes de julgarmos aquele desconhecido.

Tenho por mim um juízo. Ele é exemplo perfeito da minha opinião que tento passar adiante sobre a quem devemos dar o devido valor.

O pai de um amigo. Que bem poderia ser o nosso. Ou de qualquer um. Um desses heróis anônimos desconhecido pela sociedade. Tem o costume de acordar bem cedinho.

Em direção ao trabalho Seu Antenor vai sempre a mesma hora. Toma cerca de três conduções para chegar ao emprego. Não se atrasa nunca. Não perde tempo olhando o celular quando no trabalho. Sempre foi um funcionário exemplar. Seu salário modesto mal chega ao meio do mês. Na segunda metade faz bicos para suprir as necessidades. Ele tem dois filhos que cria com todo desvelo. Sua mulher já se foi, em companhia de outro mais jovem, há tempos atrás.  E como ele a amava. Um amor sem retorno. Onde apenas um dos lados nutria esse sentimento que requer contrapartida. Ida e volta. Sem mágoas ou ressentimentos.

Desde então Seu Antenor cuidava, ele mesmo, solitário, dos dois filhos os quais amava como a ele próprio.

Nunca deixou faltar nada naquela casinha modesta de periferia. Vivia pelos dois filhotes. Que pelo pai sentiam o mesmo carinho.

Noutra morada, num bairro distante, vivia outro senhor. Numa opulência que em nada devia a mais nababesca vida de um xeique árabe com suas esposas num harém perdido no deserto num oásis de encantamento. A fortuna daqueloutro foi feita à custa de roubalheiras e desvios de dinheiro público que nunca foram descobertos e punidos com o rigor da lei.

Mesmo assim ele enricou. Tornou-se político bem falado sem sequer fazer jus a fama de gente honesta que nunca foi.

Anos depois o segundo pleiteou a outro cargo na mesma comunidade onde viviam. Era época de eleições.

Avizinhava-se o pleito. O honesto Antenor resolveu se candidatar. Tinha como propostas acabar com a corrupção que grassava naquela comarca. Já sabia, de antemão, as poucas chances que tinha de se eleger a vereança.

Já o sabichão, do ricaço, que morava numa mansão distante. Contava certo com sua vitória. Comprava votos por qualquer nota de cem reais. Prometia mundos sem fundos. Fazia promessas mirabolantes. Ia a bairros de periferia onde jamais iria voltar.

E não é que o canastrão foi eleito? Em detrimento ao honesto que foi pouco votado?

Infelizmente são dois pesos e duas medidas. Nesse pais onde nem sempre o que reluz é doirado.

Sempre pensei, desde cedinho. A quem dar o devido valor. Aqui se valoriza quem não o tem. Não só na política assim como em nosso cotidiano sempre igual.

 

 

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