Nem parece verdade. Mas ele foi inscrito nesse torneio olímpico não se sabe bem o porquê dos porqueres.
Talvez seja por um lapso da comissão. Ela acabou por inseri-lo por causa de uma falha no sistema.
Acontece que os computadores deram pane justamente quando, naquela lista alongada apareceu um tal de Tom. Ao revés do verdadeiro campeão de lançamento de dardo que se chamava Tom Mané. Confundido com esse outro Tom. Pessoa de boa índole. Falante pelos cotovelos. Que nunca sequer lançou o tal de dardo. Acostumado que era a empunhar enxadas e foices quando a sua roça se tornava um sarandi.
A noticia da convocação à olimpíada foi como se uma bomba estourasse por aquelas bandas perdidas nos cafundós de nossa amada Minas Gerais. Tom Zé mal sorria, na sua banguelice desdentada, ao ouvir a noticia por um radinho de pilha que sempre o acompanhava nas suas lidas rurícolas. Era de não depositar fé até quando um papel timbrado, com o selo da bandeira nacional, foi-lhe entregue por seu maior amigo. Um cãozinho sapeca de nome Jack sem sobrenome conhecido por qualquer vizinho chegado.
Tom mal cria naquela convocação. Seria um engano da comissão?
Quem o conhecia dizia sim. Os desconhecidos aplaudiam de pé mesmo assentados.
Naquele dia da partida, para participar dos jogos olímpicos cujo cenário seria Paris Tom nem dormiu direito. Acordou com o pé esquerdo e imediatamente trocou de pé. Persignou-se. Orou a sua santinha dos desata nós. Tomou um cafezinho magro acompanhado de uma broa de milho azedo. Vestiu a melhor fatiota que possuía. E tomou o busão que o levaria a capital.
Uma vez na sala de embarque beliscou-se não acreditando que iria andar da avião. O mais distante que já foi. Mesmo assim em romaria. Foi em Aparecida do Norte. Aquela viagem até hoje não lhe sai dos pensamentos. O ônibus teve os quatro pneus furados durante a viagem. No santuário de Aparecida apareceu a pé.
Paris nunca lhe pareceu tão distante. Um sonho que nunca tinha sonhado dantes.
Foi hospedado numa tal vila olímpica. Fazia um calorão dos diabos e acabou dormindo pelado.
Foram dias perdidos em visita a capital francesa. Tom se perdeu no metro parisiense. Encontraram-no meio atônito no alto da torre Eifel sem saber como descer já que não tinha escada nem rolante a danada.
Enfim eis que chegou o dia da disputa no arremesso do tal dardo. Tom nem sabia o que seria aquilo. Era neófito no assunto. O único dardo que havia jogado foi uma enxadada que lhe doeu na canela. E como doeu a danada!
Uma vez chegada a vez do Tom ele não fugiu da empreitada. Empunh0u o tal dardo com a força que Deus lhe deu. Pensou nas foiçadas que dava quando limpava a sua pastaria suja na entressafra.
De olhos cerrados atirou aquele estropício mais longe que dava conta. E pasmem! Foi o melhor arremesso do dia. Atingiu a marca de mais noventa e três metros não quadrados. Foi ovacionado. Não com ovos podres. Das arquibancadas lotadas do gigantesco ginásio.
No dia seguinte não repetiu o feito glorioso. Na hora exata do lançamento se lembrou do jumento que, naquela hora tardia deveria receber capim picado misturado a silagem de milho azedo. E Tom Zé, ao fazer aquele movimento no sentido horário, se equivocou e fez justamente o contrário. A tal lança foi cair exatamente onde não deveria. Na bunda redonda da mocinha linda que era a juíza da prova.
Não carece dizer que o desinfeliz Tom foi desclassificado. Foi expulso do certame e foi mandado de volta ao seu país na lotação das seis e meia.
Foi recebido desenxabido na sua rocinha prejuizenta com uma mão na frente e a outra no seu bolso vazio. Sem medalhas ou consideração pelo arremesso primeiro que havia feito. Foi uma desfeita enorme; dizem por ai.
A primeira olimpíada de Tom Zé, se foi a primeira, não haveria a segunda. Pena! Verdadeiros heróis olímpicos, anônimos, pululam por aí.