Aquele menino esperto, nascido em berço dourado, tinha tudo para ser feliz e não sabia.
Em casa não lhe faltava nada. Filho único de uma família bem estruturada.
Morava num bairro elegante. Casas, verdadeiros palácios eram seus vizinhos. Renato era seu nome.
O pai, homem de negócio, quase não parava em casa. Era a mãe, pessoa maravilhosa, que passava o tempo todo cuidando do filho.
Eis que era chegada a hora de Renatinho frequentar uma escola. Lá ia ele, de mochila às costas, todo garboso tomar o ônibus escolar que o levaria a outro bairro elegante.
Era uma escola privada. De bom conceito e cujo preço saltava aos olhos.
Ali Renatinho passou os melhores anos de sua vida. Era considerado aluno acima da média. Tirava boas notas. E logo se destacou pela responsabilidade e zelo, por sua conduta exemplar e outras qualidades que faziam dele uma pessoa admirada não apenas pelos professores bem como pelos colegas de farda.
Pena que a mocidade dura tão pouco. A do Renatinho passou como passam as andorinhas em seus voos quando muda a estação.
A vida da voltas que nem se sabe pra onde vamos ou se voltamos. A do menino Renato não fugiu a regra. O pai adoeceu aos menos de cinquenta anos. Logo foi ao leito. De onde nunca mais se levantou. A mãe, desesperada, não tendo a quem recorrer, acabou perdendo a razão. Só restou ao jovem Renato, antes de concluir o ensino médio, tomar as rédeas da casa. Mas não estava preparado para tamanha responsabilidade.
As finanças da família ruíram por terra. Logo a fortuna, guardada por tantos anos, se dissipou.
Tiveram de mudar de casa. Para outro bairro de classe média. Dali a pobreza quase absoluta foi um passar de vento. Veloz e recheada de lamentos.
O jovem Renato a tudo assistia sem nada poder fazer. A não ser rezar para a vida melhorar. O que não aconteceu.
O pai um dia faltou. A mãe se desesperou. Teve de ser internada num hospital de insanos. Onde a louquice mostrava os semblantes inexpressivos de mentes doentes.
Renato, graças a sua índole valente, a tudo enfrentou com galhardia de um bravo.
Cuidava da mãe. Era ele quem provia a casa. Mesmo não estando preparado para tal sacrifício.
Antes tudo eram flores na vida do menino Renato. Agora as flores se despetalaram.
O tempo passou. Da família do jovem Renato nada restou. A mãe querida, de saudosas lembranças, um dia se foi. Deixando uma lacuna enorme no seu rastro.
Um dia, de volta a casa, não aquela linda de um bairro sofisticado, o já adulto Renato, ao folhear um velho álbum de fotografias, em preto e branco, vislumbrando as fotos antigas, quando eram felizes, naquela família maravilhosa em que foi criado, ao constatar a penúria dos dias atuais, não teve como conter as lágrimas.
Elas despencaram em cascatas cristalinas pelos cantos da face.
Os pais ausentes. A vida passada apenas retratada naquelas fotografias de tempos bons, fizeram-lhe pensar nos anos idos.
Foi quando percebeu, ainda jovem, o amargo sabor dos dissabores.
Essa história acontece todos os dias. Só que não são contadas.