Tiãozinho Nem Nem e o primo Pedrinho Por Isso

A juventude, exceções sejam feitas, anda a palpos de aranha no que diz respeito a estudar para se dar bem na vida.

Talvez devido aos tempos modernos. Ao desestímulo que encontram na própria casa. A concorrência desleal que torna quase impossível a qualquer um ter sucesso na carreira escolhida. Já que o mercado encontra-se saturado. O emprego de carteira assinada se mostra quase extinto. Como os pobres dinossauros apenas encontrados em museus.

Na semana passada uma linda mocinha estudada aqui deixou seu currículo. Era técnica de enfermagem. Faltava-lhe experiência. Pelo lido ela estaria preparada para qualquer atividade na área de saúde. Mas, depois fui saber que a mesma acabou sendo empregada como empacotadora de um supermercado. Exemplo que bem indica a situação calamitosa por que passamos. Neste país onde o povo mendiga migalhas. Conquanto aqueles que nos dirigem levam malas de dinheiro para gastar no estrangeiro.

Esses moços, pobres moços, ah! Se soubessem o que eu sei. As experiências que colecionei. As trombadas que dei. Felizmente meus pais tudo fizeram para me tornar o que tornei. Se sou feliz bem que tentei.

Como exemplo da falta de estudos, de capacidade de ir adiante, tomo por empréstimo a história de dois aparentados.

Eram primos em primeiro grau. Um se chamava Sebastião. Não conta o sobrenome. O segundo, embora fosse o primeiro na escala dos desempregados, recebeu o nome epíteto de Pedrinho Por Isso.

Eles, desde tenra idade, passaram a mocidade sem frequentar a escola. Não por falta de cutucão dos pais. E sim por desleixo mesmo.

Ao invés de acordar cedo, tomar aquele cafezinho esperto, irem à escola, em verdade foram apenas uma vez, e depois passaram a gazetear aulas, pra onde iam de fato? A um campinho de futebol. Ali passavam horas vazias naquele “dolce far niente”. Coisa de vadios que na verdade passaram a ser.

A vida pilhou-os em maior idade. Tanto Tiãozinho Nem Nem, ou Pedrinho Por Isso, continuavam naquela vidinha mansa. Eram filhos cangurus.

Os pais, aposentados, não tinham coragem de mandar ao olho da rua os filhotes ineptos a qualquer coisa que rimasse com trabalho. Ambos ficaram-lhe às costas. Que carga pesada eram de fato.

Aos mais de vinte anos os primos não aprenderam qualquer ofício. Diploma em qualquer curso não dependuraram na parede dos quartos.

Recebiam uma mesada que lhes permitia ter uma vidinha folgada. Era o suficiente para a cervejinha das tardes mansas. Para ir ao futebol dos finais de semanas. Até mesmo para ir ao cinema com alguma garota desavisada da tranqueira que tinham como acompanhantes.

Uma vez aos trinta a dupla de primos continuava na mesma atividade de nada fazer. Já com a barba por fazer, cabelos crescidos além do pescoço curto, passavam horas, dias, minutos, sem se preocupar com a vida.

Por sorte deles os pais, já velhos, podiam fazer-lhes os gostos. Mas tanto Pedrinho, como Tiãozinho, só davam desgostos aos provedores.

Um dia os pais lhes faltaram. A mesada caiu por terra. Eles ficaram a ver navios ancorados num mar bravio. Sem lastro, sem trabalho, sem capacidade de produzir nada a não ser a vadiagem costumeira.

Foi numa terça feira do mês de junho, fazia frio pela manhã, céu encoberto por nuvens cinzentas, que os encontrei numa praça do centro. Local onde desocupados e viciados passavam o tempo.

Tiãozinho Nem e o primo Pedrinho Por Isso olhavam o entorno com ares de desalento.

Para matar a curiosidade, já que havia assistido pela televisão a um programa sobre jovens da geração Nem Nem, parei um par de minutos para retirar um dedal de prosa com os dois desocupados.

Foi mais ou menos esta a nossa prosa.

“Vocês, com a idade que chegaram, não têm vontade de mudar de vida? Seria esta a vida que de fato escolheram”?

Num átimo ambos me responderam. Sem pensarem muito.

“Eu”, disse o Tiãozinho, “Tô feliz assim. Nunca me faltou nada. Nem me fale em trabalho. Estudar nunca foi o meu forte”.

O primo fez coro ao amigo: “e eu nem por isso. Comungo dos mesmos desejos do querido Tiãozinho Nem Nem”.

Daí descobri a razão de ser da geração Nem Nem. A qual acrescento o Por Isso.

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