Quando menos se espera

A vida tem pregado peças na gente ao menor descuido.

Quando acordamos estamos jovens. Mais tarde a idade muda. Como as estações se transformam.

Digo, com o coração aberto, que a mesma vida seria insuportável não fossem as mudanças. Mudamos de idade. Perdemos a mocidade. Entramos na maior idade.

Num dia qualquer deixamos de existir. Pena. Faz parte do ciclo mágico que se chama vida. A morte inclusive deve ser inserida em nosso calendário. Como parte indivisível da gente. Ninguém fica para semente. Nossos ossos duram mais que as partes moles. Mas um dia eles virarão farelo. Que serão guardados num saco preto. Para desocupar nosso túmulo que um dia será aberto para abrigar outros de nós. Muitos advogam que a melhor forma de sermos lembrados seria pelos nossos atos. Não pelo corpo velado num velório qualquer.

Quando menos se esperta a terra nos engole. Não há como evitar esta inarredável verdade.

Passamos pela vida numa velocidade variável. Uns passarinham mais velozes. Outros vivem mais do que deveriam.

Para continuarmos a desfrutar a beleza dos dias, como o de hoje, dezesseis de maio, sol a pino, manhã fresca e clara, não devemos fechar os olhos. Antes que o dia se transforme em noite. E recomeça a mesma ladainha de sempre. Esta rotinha enfadonha de fazer tudo sempre igual. Dia após dia.

Quando menos esperamos alguém há de nos fechar os olhos. Estes mesmos olhos que tentam enxergar, nas dificuldades, algo de bom que acontece sempre. Mas nem sempre o sempre é visto de olhos abertos.

Quando menos se espera ficamos velhos. Anciãos decrépitos, que viram a mocidade passar sem se dar conta dela.

A vida deve ser aproveitada minuto a minuto. Pois eles passam velozes. Sem nos darmos conta de quantos deles se foram.

Antes todos nós éramos meninos brincando de pique-esconde. Nem com a escola nos preocupávamos. Depois a luta pela vida torna-nos sem tempo para apreciá-la em sua beleza infinita.

Quando menos se espera a mesma espera nos espreita sem tempo para pensar em nós.

Pois o tempo passa. Até a uva vira passa. Somos nada mais ou menos que um passar dos anos. Que são repletos de desenganos. Instantes felizes e outros nem tanto.

Quando menos se espera o sol cede lugar a nuvens. Que tanto podem ser brancas ou cinzentas.

A chuva cai em certos dias. Noutros os dias serão plenos de sol.

Hoje espero que nosso não seja mais um dia igual a outros. Que seja bem melhor que os outros. Muito melhor que o ontem foi.

Quando menos se espera a noite vem. O sono não chega. As preocupações com o novo dia nos fazem perder o sono.

A vida é assim. Não se deve esperar muito da vida. Pois ela deve ser vivida em sua intensidade máxima. Embora, por vezes, quando menos se espera, a morte chega. E tudo que passou foi esquecido. Os amores mal resolvidos. Os fracassos guardados entre lágrimas que secaram.

Quando menos esperava o dia virou noite. E acordei em plena madrugada, pensando no que escrever no dia seguinte. Pior seria quando não puder escrever nada. Minha inspiração se for.

E eu, perdido dentro de mim mesmo, nem ao menos souber o que fui. E não descobrir o que se passa dentro de mim.

Um texto confuso acabou de ser escrito. Por ninguém ele foi ditado. Nem por mim mesmo.

Quando menos se espera a espera se foi. Para onde, questiono eu? Para a interrogação do infinito.

Agora são sete e meia da manhã. Esperava acordar com mais disposição de encarar a vida. Mas, quando menos esperava a mesma rotina me disse, com sua voz rotineira: “Não espere tanto de si mesmo. Pode ser que você se frustre, por esperar tanto da vida”.

Foi quando parei de escrever asneiras.

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