Caso me fosse permitido escolher…

O poder de escolha nem sempre é respeitado em nosso chão.

A começar pelo nome. Quem elege qual chamamento vai acompanhá-lo a vida inteira não é seu dono. O bebê, recém de olhinhos abertos, mal sabe ele se vai ser Manuel, Joaquim, André ou outro qualquer. Pior ainda se o pobre infeliz nasceu quando um tal Ronaldinho era famoso como jogador de futebol. E ele passa a detestar futebol. De tanto os coleguinhas compará-lo aquele moreno de estilo não sóbrio. Embora tenha sido mestre com a bola nos pés não se possa dizer o mesmo como atleta. Sujeito a noitadas como outro que ontem jogou e perdeu. Como pessoa não o conheço o suficiente para falar bem ou mal dele. Que o digam seus pais ou aqueles em contato mais íntimo do agora aposentado ex-futebolista genial.

O nome por vezes pode ser mudado. Isso quando o Joãozinho nasceu com jeito de menininho. Mas, ao se descobrir senhor de si, ao invés de roupas azuis passa a preferir cor de rosa. A partir de então prefere se chamar Joaninha. Por pura ilusão de ser meninazinha. Embora muita gente torça o nariz quando ele sai à rua vestindo trajes femininos. E daí? Cada um vive a vida como quer. Daí a receita da felicidade. Embora ela se resuma a instantes fugazes. Não existe felicidade diuturna. Ela vem e vai como o vento que assopra. Como a flor que cai e se debruça na relva seca do jardim. A exemplo tomo a flor do ipê.

Meu nome foi escolhido não sei por obra de quem. Paulo se explica por ter sido o primeiro filho de outro Paulo. Expedito talvez por influência de um santo. Embora não seja santo sou esperto. Expedito dá no mesmo que ser esperto, ativo, fácil entendedor de coisas e loisas. Penso que assim o sou. Pelo menos era até a data de hoje – quinze de fevereiro. Pós-carnaval.

O nome que a gente carrega às costas fica grudado em nós até que a morte nos liberte. Aí talvez outro o copie. Ainda mais se a gente ficar para a posteridade por atos de bravura ou quando a fama nos bafeje com sua boca falante. Daí os pais escolherem os nomes dos filhos inspirados em nomes de terceiros. Nomes em moda. Hoje prenomes  curtos são vistos nas certidões de batismo. Salvo logro meu. Daí nascem Theos, Brunos, Tomés, e outros que estão em voga. Amanhã não mais estarão ilustrando ilustres personalidades mundo afora.

E quando a gente vier a morrer? O que vai ser dos nossos nomes? Serão olvidados? Simplesmente postergados? Esquecidos? Mal falados?

Já vi rua com nomes de pessoas que se notabilizaram em vida. Depois de mortos serão lembrados em certas avenidas. Quando mais honorável for a pessoa mais notável vai ser a rua. Um Tião qualquer nunca vai batizar uma rua direita. No máximo um beco que liga nada a lugar nenhum. Ou uma viela de terra batida. Num lugar esquecido pelas autoridades.

Já um político importante ( hoje está em baixa dar nomes de deputados, a não ser em cortiços infectos e contagiosos), antes eram agraciados com nomes de praças e jardins bem cuidados. Agora nem tanto.

Hoje, depois de passar pelo bloco cirúrgico daquele hospital que tantas lembranças eternas me traz, após comprovar o quanto a Santa Casa está moderna e eficiente, ao sair daquelas salas onde médicos tentam devolver a saúde onde ela estava ausente, ao olhar atrás li o nome que o centro cirúrgico foi nomeado.

A inscrição diz assim: “ Centro Cirúrgico Doutor Pedro Menicucci”. Boas lembranças daquele doutor.

E quando eu vier a deixar de existir? Será que irão se lembrar de mim?

Serei recordado com nome de algo? Adianto que nome de sala de cirurgia não gostaria de ser. Talvez de um hospital inteiro. Ou da biblioteca de uma escola. Já de rua deixo a outrem. De avenida não me considero tão importante. Quem sabe um beco enfeitado de rosas azuis? Caso for agraciado com um, que seja um beco poético. Cheio de árvores ricas em sombras. Cheias de flores amarelas. Ou de pequenos arbustos como azaleias multicores.

Deixe que a morte chegue. Para que as pessoas póstumas a mim se lembrem do que fui. Se tive importância ou não.

Já que não posso prever meu passamento, fica aqui, de momento, quem sabe dar-me-ão o nome de qualquer coisa que inspire poetas. Que tanta falta fazem nos dias de agora.

Sei que um dia passarei. Todos passarinhão.

Contento-me em  batizar qualquer coisa. Até mesmo um beco obscuro. Desde que se lembrem de mim pelas coisas boas que aqui deixei. Entre vocês. Pessoas que porventura me admiraram em vida. Por favor: lembrem-se de mim agora. Depois não importa o choro que for derramado. Nem o logradouro que em meu nome for batizado.

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