Chega de morte. Vamos falar de vida!

Quantas e quantas vezes chorei no universo dos meus sessenta e oito anos. Foram lágrimas incontidas todas elas, tantas.

Se não percebi gotas salinas escorrendo-me pelo canto dos olhos, as lágrimas escorreram por dentro do meu peito sofridas. Foi um choro manso. Não estrepitoso como ontem vi meu querido Theo chorar por não lhe terem feito a vontade. Aquele choro espalhafatoso para mim deveria ser chamado de birra. E punido com um castigozinho leve. Por exemplo, deixá-lo sem assistir a galinha pintadinha, desenho animado que ele gosta tanto.

Eu era castigado assentado a uma cadeira dura. Apenas deixava o encosto depois de pedir leite a minha mae. E ela me soltava graças aquela iguaria que ainda gosto muito. Especialmente gelado. Se não escorrido do tanque de expansão bem como da geladeira retirado pela manhã.

De volta ao Brasil, depois de uma semana apenas de férias numa ilha paradisíaca, ex-colônia da Holanda, comecei por ter notícias de morte.

A primeira que me fez não chorar, mas sentir por dentro a mesma dor de um punhal ensartado no peito foi o passamento do meu colega de farda.  Laércio, meu amigo e colega, que dividia o mesmo quarto do último andar de um hospital, onde quase não dormíamos, foi a primeira baixa que tive. Não apenas eu. Como de sua família linda que conheci tempos depois de nossa residência médica.

Hoje Laércio deve ter sido sepultado numa cova em algum cemitério da capital do meu estado. A urologia brasileira veste luto fechado. Mais algum colega ilustre deve ter passado além das nuvens cinzas em algum lugar por aí.

Pela imprensa falada e escrita soube de um óbito que causou grande consternação no mundo da literatura brasileira. Os jornais, a mídia em geral, devem ter chorado lágrimas escritas pelo passamento do grande escritor Carlos Cony. Notável articulista de vários jornais. E romancista fecundo.

Mais a tarde, caminhando lentamente em direção a casa do Theo, já era noite, dei de caras com um primo que aqui morava. Embora sendo nascido na vizinha Perdões.

De fone de ouvido ligado cumprimentei-o, do mesmo Alvarenga de minha mãe, e soube mais uma péssima novidade.

Foi preciso apurar os ouvidos. Moucos, até então. Retirei meus fonezinhos de chofre. Para saber que o apelidado Parede, mais velho anos apenas que ele, o querido Toninho da Epamig, foi morar no céu junto a outros amigos.

Na hora não cri no acontecido. Perguntei detalhes. Como médico fui elucidando as circunstancias trágicas do seu óbito, acontecido há poucos dias atrás.

Foram três noticias de morte. Quantas mais ocorreram de aqui, das Gerais, a outras partes do nosso território? Foram mais de três. Muito mais.

Na casa do meu querido neto cheguei. E como ele faz traquinagens. É preciso ter pernas fortes para acompanhá-lo a impedir qualquer acidente de percurso. Theozinho não tem ainda noção do perigo. Para ele tanto faz descer escadas em desabalada correria, quanto ir atrás de uma bola macia, ou se enveredar por águas rasas ou profundas. Tanto faz, tanto fez.

Passei horas agradáveis como pajem do menino de menos de dois anos de vida. É preciso folego de atleta. Pulmão  de não fumante. Para evitar quedas e acidentes pérfuro- cortantes. Ou coisas e loisas ainda piores.

Cheguei ao país onde moro, o qual adoro a exaustão, cercado da palavra morte.

Ao ver o Theo, e outras crianças, correndo de aqui para lá, esbravejando vida, foi que decidi dar um basta na morte. Que tal trocá-la por vida?

 

Deixe uma resposta