De volta ao Brasil

Cansado como estou preciso tirar férias das minhas férias.

Não que aquele resort maravilhoso não me tenha agradado. Aruba ao revés, agradou além das expectativas.

Tanto pelas aguas tépidas do mar do caribe. Bem como da hospitalidade movida à propina, palavra ali não entendida como a nossa. Entendam tip., gorjeta, agrado, molhar a mão, dar uma nota não menor que cinco dólares norte- americanos, não vale real lá, florim é bem vindo. Aliás, acabei vendendo meu livro a quinze florins. Logo a um simpático capixaba ali residente há anos bem vindos, segundo o amigo Geovane. Especialista em informática, que exerce função de destaque entre os funcionários que falam aquela língua simpática de nome “papiamento”.

Passei notáveis dias, uma semana apenas, entre meus familiares. Theozinho, como sempre, foi o que mais deu trabalho. Depois de mim.

Dizem que o melhor da ida é a volta. Pena que não apenas o trabalho de médico me espera. As contas não esperam. Ainda mais no primeiro mês do ano. E elas estão de números abertos a nossa espera. Malditos malotes. Carnês, duplicatas sempre em dobro, vencidas então nem se fala. Os juros andam enxurrada adentro. Como tem chovido além das nuvens densas…

Hoje cedo fui ter a roça dos meus problemas.  Em lá chegando percebi que faltava luz pelas cercanias. O bom e mourejador Roberto se preparava para acudir suas vacas. De úberes cheios berravam de dor.

Creio que a Cemig já cuidou do imbróglio. Se não cuido eu. À luz das nuvens cinzentas escrevo como um condenado à forca. Que na minha condenação não impeçam de cumprir a pena numa cela onde não falte computador. Oxalá. Nem luz elétrica.

A volta a Guarulhos foi sem percalços. Salvo um atraso esperado no voo da competente Avianca. E como tem colombianas lindas na ilhota de Aruba. Ainda me lembro da Lina, da Maria José, e de tantos outros gentis serviçais espalhados por lá.

O tempo em São Paulo estava generosamente aberto. O sol se fazia. Foi só dar de pneus em Minas Gerais a cinzentice já chorou.

Hoje, seis de janeiro, depois de um lauto almoço no clube do condomínio onde me escondo feliz, de novo aqui venho a escrever.

Duas noticias péssimas me esperavam no dia de hoje.

A primeira foi a morte de um colega a quem devo tanto.

Doutor Laércio Nogueira da Silva passou ao além. Creio em companhia das suas máquinas com as quais se dava tanto bem.

Ele foi, se não me engano, um pioneiro da arte da urologia em nosso estado montanhoso.

Dividíamos um dos quartos na residência no hospital do Ipsemg. Eu, um ano adiante. Ele apenas um por detrás.

Ainda me lembro de quando me preparava para ir a Espanha. Concluir minha especialidade. O Laércio me tomava o bisturi nas cirurgias de próstata. E eu ficava olhando sua desenvoltura em fechar o campo cirúrgico.

Uma vez em Madrid, preocupado em “ver, oir e calhar para non molestar”, era assim que os espanhóis diziam, não mais soube notícias do colega que ficou em BH. Soube apenas ao voltar. Das terras d’além mar.

E como ele foi pioneiro do lado de cá do oceano! A primeira máquina de quebrar cálculos renais foi de sua iniciativa. A cirurgia endourológica idem foi.

Perdi a conta de quantos congressos da especialidade fomos juntos. A sua esposa Aparecida, suas duas filhas, que conosco estiveram em Camargos, seu filho e continuador, o Leo, não estava.

Hoje Leo segue a trilha do pai doutor.

Minha filha Bárbara muito lhe deve. Foi ele que, quando ela morava no Rio de Janeiro, em cólicas renais, foi Laércio quem a livrou do incômodo. Graças a presteza e competência que a especialidade o dotou.

Hoje, seis de janeiro, soube, pelo meu querido preceptor, outro grande doutor, David Abelha Junior, que nosso amigo Laércio havia deixado na capital das Gerais uma vaga aberta. Hoje ocupada pelo seu filho Leo.

Fazer o quê? Escrever o quê? Se apenas lágrimas brotam dos meus dedos.  Meu olhos pensam chorar.

A outra novidade que me casou impacto, não como da morte do amigo da mesma farda, foi o passamento de um grande escritor. Carlos Heitor Cony também nos fez órfãos de sua pena mágica. Como ele sabia escrever, e cronicar como poucos.

Uma vez na estrada, ainda longe de minha Lavras amada, vi um outdoor dizendo assim: “a dez quilômetros um restaurante com banheiros limpos”. E precisava reforçar o limpo?

Foi quando percebi que enfim chegamos ao Brasil.

Com seus defeitos mil. Com sua gente falante.  Em meu português s que amo tanto.

À volta tive duas péssimas noticias. Não vou enumerá-las novamente.

Enfim, de volta ao Brasil…

 

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