Essa mania de felicidade

Se soubesse onde encontrar a felicidade…

Iria onde quer que ela se mostrasse.

Fosse no cume de uma alta montanha. Num vale paradisíaco. Nas praias de areias brancas. No convés de um navio.

Eu para lá me dirigiria. Não importassem os descaminhos. Vestiria minha melhor roupa. Nos pés um par de tênis confortável. Caso fosse num dia de sol cobriria minha calva com um chapéu protetor. Se, ao revés, estivesse nevando no cume da tal montanha onde mora a felicidade, usaria agasalhos adequados. Não importam os trajes. O que conta em verdade de fato é descobrir, nalgum lugar onde a felicidade se esconde. Mesmo sabedor que não existe felicidade contínua. E sim pedacinhos delas esparramados em lugares mais improváveis. Com certeza ela não fica em castelos suntuosos. Em resorts onde se pagam diárias irresponsavelmente caras. Ou em apartamentos de cobertura em logradouros caríssimos.

Noutro dia vi, bem perto de minha roça, quando andava a cavalo, sem destino certo, acabei apeando numa varanda rica em sol. Ali estavam sorrindo mãe, pai, e dois filhos menores. Enquanto a mãe preparava o café da manhã o pai carpia um mato ralo que ameaçava tomar conta da horta de couve. Um dos filhos tratava dos canarinhos da terra que comiam sem medo bem pertinho dele. A menorzinha alimentava as galinhas ciscando na terra desnuda defronte aquela casinha tosca.

Não tive como não admirar aquela cena bucólica. Estaquei da minha montaria. E tive um dedinho de prosa com os pais daquela família feliz. Foi quando depreendi a razão de toda aquela felicidade genuína. Ela se explicava na singeleza do simples. Nas tarefas divididas. No amor que todos sentiam pela vida simples que levavam naquele lugar ermo. No carinho que todos nutriam uns pelos outros. Enfim. A felicidade com a qual deparei, naquela tarde ensolarada, tinha várias explicações. Fáceis de serem encontradas.

De volta a minha roça, ao desenvencilhar o cavalo de seus arreamentos, ao vê-lo correr livre na pastaria senti aqui dentro de novo onde morava a tal felicidade. Ela reside na liberdade de ir e vir. De fazer o que se gosta. Mesmo nos expondo ao ridículo de sermos julgados insanos pelos outros que se dizem iguais a nós. Mesmo sendo tão dispares.

Essa mania de felicidade tem me acompanhado sempre no meu cotidiano andarilho.  Caso me faça refém dos carros não encontro no seu interior a tão sonhada felicidade. Quando não posso ir a roça aos sábados não sinto por dentro o tal lampejo de felicidade irrestrita. Quando não corro pelas estradas perto da minha cidade não encontro onde se esconde a felicidade. Da mesma forma, quando não me bate a inspiração, quando passo um dia sem escrever, não sei como se escreve a tal felicidade. Quando não trabalho, quando não atendo pacientes, seja aqui, no consultório, nos postos de saúde pública, não sei sequer grafar a palavra linda escrita com todas as letras – felicidade.

Essa mania que tenho de procurar felicidade tem me acompanhado por onde quer que vou.

Se não a encontro me consolo em ler algum livro. Caso a persiga nos lugares mais prováveis e não a veja naquela rua onde cresci, daqui a posso ver pelas costas, fecho os olhos e sonho com ela. Embora não sonhe tanto, quem sabe, nos próximos devaneios essa mania doida de vivenciar a felicidade talvez se torne não uma ilusão. E sim uma realidade pura.

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